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Entenda por que o “relógio mental” de quem tem insônia não desliga à noite

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A insônia é hoje um dos distúrbios do sono mais comuns no mundo, afetando milhões de pessoas que, mesmo exaustas, relatam a sensação de que a mente simplesmente “não desliga” quando chega a hora de dormir. Estudos recentes em neurociência e psicologia do sono mostram que essa hiperatividade mental noturna não é fruto de falta de esforço ou ausência de relaxamento, mas resultado de processos fisiológicos e cognitivos específicos que mantêm o cérebro em estado de alerta, mesmo quando o corpo tenta descansar. Pesquisadores chamam esse fenômeno de hiperexcitação cognitiva, um dos pilares da insônia crônica.


Um dos principais mecanismos envolvidos é a ativação exagerada do eixo de estresse, conhecido como eixo hipotálamo–hipófise–adrenal (HPA). Em pessoas com insônia, esse sistema libera hormônios de estresse mesmo à noite, período em que deveria estar reduzido. O resultado é o aumento de cortisol, ritmo cardíaco acelerado e sensação de vigilância constante. Enquanto uma pessoa sem insônia passa progressivamente para fases mais profundas de relaxamento, quem sofre com o distúrbio parece permanecer preso em um estado mental semelhante ao de “resolução de problemas”, impossibilitando o desligamento natural do cérebro.


Outro fator amplamente estudado é o chamado “viés de preocupação noturna”. À noite, o cérebro tende a ter menor estímulo externo e, portanto, maior espaço para pensamentos internos. Para quem tem insônia, isso se traduz em ciclos constantes de ruminação: preocupações sobre o dia seguinte, autocríticas, medos e até mesmo ansiedade sobre o próprio fato de não conseguir dormir. Essa dinâmica cria um círculo vicioso: quanto mais a pessoa tenta “forçar” o sono, mais alerta o cérebro se mantém, o que aumenta ainda mais a dificuldade de adormecer.


A hiperconectividade do cérebro também desempenha papel importante. Pesquisas com ressonância magnética funcional mostram que pessoas com insônia apresentam maior atividade em redes neurais responsáveis por atenção, memória e tomada de decisão. O chamado “modo de alerta” permanece ativo, mesmo quando o indivíduo está deitado no escuro. Isso ajuda a explicar por que pequenos ruídos, luz fraca ou simples movimentos se tornam suficientes para quebrar qualquer tentativa de sono. Em muitos casos, o cérebro de quem tem insônia funciona à noite como se estivesse em pleno dia.


Há ainda a influência dos hábitos modernos. O uso de telas antes de dormir, excesso de estímulos digitais, horários irregulares e carga de trabalho elevada são fatores que treinam o cérebro a permanecer ativo por mais tempo. Quando a rotina de descanso não é consistente, o relógio biológico — responsável por regular o ciclo sono-vigília perde clareza sobre o momento de desacelerar. Esse descompasso entre a necessidade biológica e o estilo de vida contemporâneo contribui para que o “relógio mental” simplesmente não obedeça ao horário de dormir.


Os especialistas reforçam que a insônia não é apenas uma dificuldade de dormir, mas uma condição complexa que envolve comportamento, biologia e emoção. Técnicas como higiene do sono, terapia cognitivo-comportamental específica para insônia (TCC-I), respiração profunda, controle de estímulos e rotinas regulares têm mostrado grande eficácia na redução da hiperexcitação mental. Em casos persistentes, o acompanhamento com profissionais de saúde é fundamental para evitar que a insônia se torne crônica e comprometa o bem-estar, a produtividade e a saúde física ao longo do tempo.


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