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A banalização do autodiagnóstico de TDAH e o que os testes de internet não te contam

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Nos últimos anos, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) passou a ocupar um espaço cada vez maior nas redes sociais e nas conversas cotidianas. Termos como “hiperfoco”, “procrastinação crônica” e “mente inquieta” se popularizaram, e com isso, também cresceu o número de pessoas que se identificam com sintomas do transtorno. No entanto, especialistas alertam para o risco da banalização do diagnóstico e do aumento do autodiagnóstico feito pela internet, muitas vezes baseado em testes superficiais, vídeos curtos e informações sem base científica.


O TDAH é um transtorno neurobiológico que afeta a atenção, o controle de impulsos e a capacidade de organização. Embora seja amplamente estudado, seu diagnóstico é complexo e depende de uma avaliação clínica detalhada, feita por profissionais qualificados, como psiquiatras e neuropsicólogos. A dificuldade está em diferenciar o que é um padrão comportamental típico como distração ou desatenção em períodos de estresse do que é de fato um transtorno com impacto funcional. Os testes de internet, muitas vezes, não fazem essa distinção, levando pessoas a conclusões equivocadas.


De acordo com a psicóloga e pesquisadora em saúde mental Fernanda Lemos, os testes online podem até servir como um ponto de partida para a reflexão, mas nunca devem substituir uma avaliação profissional. “Os questionários que circulam nas redes não consideram fatores como contexto de vida, histórico familiar, comorbidades ou o impacto real dos sintomas no cotidiano. Isso faz com que muitas pessoas acreditem ter TDAH, quando na verdade estão enfrentando sobrecarga, ansiedade ou privação de sono”, explica. Segundo ela, a autodiagnose pode gerar ansiedade, automedicação e até dificultar o tratamento adequado.


Outro aspecto preocupante é a romantização do transtorno nas redes sociais. Diversos influenciadores digitais falam abertamente sobre o TDAH, o que contribui para a desestigmatização, mas também cria uma visão distorcida e simplificada do tema. Em muitos casos, o TDAH é retratado apenas como “uma forma diferente de pensar” ou até como um “superpoder criativo”, o que desconsidera os desafios diários enfrentados por quem realmente vive com o transtorno, como dificuldade de concentração, desorganização, esquecimentos frequentes e baixa tolerância à frustração.


A banalização do autodiagnóstico também reflete uma busca crescente por respostas rápidas em tempos de sobrecarga emocional e hiperconectividade. O consumo excessivo de conteúdo digital, a pressão por produtividade e o ritmo acelerado da vida moderna têm gerado sintomas que se assemelham aos do TDAH, sem necessariamente caracterizá-lo. A diferença está na duração e na intensidade dos sintomas, e apenas uma avaliação médica pode confirmar se há ou não o transtorno. O uso incorreto de medicamentos estimulantes, sem prescrição, agrava ainda mais esse cenário e pode causar sérios danos à saúde física e mental.


O caminho para uma compreensão mais madura sobre o TDAH passa pela educação em saúde mental e pela busca de informação qualificada. É essencial compreender que o diagnóstico é apenas o ponto de partida para o cuidado e que o tratamento, quando necessário, deve envolver acompanhamento médico, psicológico e, em alguns casos, medicamentoso. Entender a complexidade do transtorno é respeitar as pessoas que realmente convivem com ele e garantir que o tema seja tratado com responsabilidade, empatia e base científica.


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