O Círio de Nazaré 2025 reúne fé e emoção em Belém, celebrando a maior tradição religiosa do Pará
- Cauã Costa
- 12 de out.
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Domingo, 12 de outubro de 2025. O céu clareia e a cidade inteira, coração pulsante da Amazônia, se prepara para viver mais uma edição do Círio de Nazaré — a maior demonstração de fé do Pará, comparável ao Natal em sua capacidade de reunir, emocionar e renovar esperanças.
A festa da fé, da família e da tradição
Para muitos paraenses, o Círio não é apenas uma celebração religiosa — é o Natal do Pará. É hora de reencontro. Famílias que estavam separadas vêm participar juntas da procissão. Amigos trocam “Feliz Círio!" nas ruas, abraçam-se, celebram a fé compartilhada. É uma saudação carregada de amor e devoção.
Nas calçadas, nos becos e nas praças, devotos se vestem de fé: camisas brancas ou amarelas, chapéus, terços na mão. Uns caminham de joelhos, outros andam descalços, muitos seguram a corda que puxa a berlinda — gesto simbólico de se deixar conduzir por Maria.
Desde antes de clarear, multidões se aglomeram na Catedral Metropolitana. À medida que o cortejo avança, a cidade se transforma em mar de orações, cânticos e promessas. É emocionante ver como as ruas se tornam templo vivo, e cada rosto reflete reverência, gratidão e esperança.
Curiosidades que enriquecem a devoção
A imagem de Nossa Senhora de Nazaré teria sido encontrada em 1700 por um caboclo chamado Plácido José dos Santos, às margens de um igarapé, entre pedras e vegetação.
O Círio como o conhecemos começou em 1793 e se transformou na maior manifestação religiosa do Brasil.
A corda que liga os fiéis à berlinda — símbolo de fé e entrega — tem cerca de 400 metros de comprimento, é feita de sisal e pesa quase 700 quilos.
Antigamente, a berlinda era puxada por bois; no século XIX foi introduzida a corda, para facilitar o trajeto durante os alagamentos.
Já foram usadas cinco versões da berlinda oficial ao longo da história; a atual é de 1964.
Muitos devotos guardam pedaços da corda como relíquia e promessa de bênção.
Em 2004, o Círio foi reconhecido como Patrimônio Imaterial do Brasil pelo IPHAN.
E, em 2023, recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
Quando a fé se faz na multidão
Na procissão principal, mais de dois milhões de pessoas caminham juntas, vindas de todos os cantos do Brasil e até do exterior. O trajeto percorre ruas centrais de Belém, cruzando o Ver-o-Peso, a Praça da República e chegando à Basílica de Nazaré, onde a imagem é recebida sob aplausos, flores e lágrimas de emoção.
É uma caminhada de fé e agradecimento. Cada passo é uma prece silenciosa, cada lágrima é um pedido ou uma gratidão. O Círio é, antes de tudo, um gesto coletivo de amor e esperança.
O que move o Círio, além de fé
Não é só religião — é cultura, tradição e identidade. A música, os cheiros, as cores, as vozes e os sabores compõem o cenário dessa celebração. A gastronomia paraense se mistura à fé: maniçoba, pato no tucupi, tacacá — pratos que enchem as casas e as ruas de aromas e memórias afetivas.
Durante o Círio, Belém se transforma: hotéis lotam, o comércio aquece, artistas se apresentam, e a cidade ganha um brilho especial. É tempo de voltar para casa — não só fisicamente, mas espiritualmente. É quando o povo paraense se reconecta com sua origem, com sua fé e com sua gente.
Um convite à experiência
O Círio é mais do que uma procissão: é um estado de alma.
Quem vive essa festa entende que “Feliz Círio” é mais do que um cumprimento — é um abraço coletivo, é um desejo de paz, fé e união.
Que cada passo seja oferta de fé. Que cada olhar de devoção ressoe em agradecimento.
E que o Pará inteiro, uma vez mais, fale em uníssono:
“Que Maria nos abençoe, proteja e guie.”
Por Dina Rachid





