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Dia Mundial da Alfabetização: turmas multisseriadas ganham espaço no ensino de jovens e adultos

Escola Nota 10 Salvador - Crédito: Divulgação / MRV&CO.
Escola Nota 10 Salvador - Crédito: Divulgação / MRV&CO.

No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado em 8 de setembro, o debate sobre métodos de ensino ganha ainda mais relevância. Dados do Inep/MEC (2019) revelam que mais de 1,2 milhão de estudantes brasileiros frequentam turmas multisseriadas. Esse modelo, comum em áreas rurais e comunidades de baixa densidade populacional, reúne alunos de diferentes séries em uma mesma sala, sob a responsabilidade de um único professor. A solução, muitas vezes adotada diante da falta de estrutura para manter turmas isoladas, também pode oferecer experiências ricas de aprendizagem, apesar dos desafios.


Para a professora do curso de Pedagogia da Universidade Salvador (UNIFACS), Sâmia Oliveira, a diversidade constitui a característica central do ensino multisseriado. “Essa diversidade se expressa, sobretudo, na heterogeneidade das turmas, em que estudantes de diferentes idades e anos escolares compartilham o mesmo espaço; na predominância desse modelo em escolas de pequeno porte, localizadas em áreas rurais; e na necessidade de metodologias pedagógicas específicas, como roteiros de estudo, projetos interdisciplinares e cantinhos de aprendizagem”, aponta, destacando que, o maior desafio está no trabalho pedagógico. Planejar aulas capazes de atender simultaneamente a alunos de séries diferentes exige domínio curricular amplo e constante adaptação. Apesar das dificuldades, Sâmia defende que o ensino multisseriado pode gerar impactos positivos quando bem estruturado.


Segundo o pedagogo e professor, Luan Ribas, que trabalha com turmas multisseriadas de jovens e adultos em um projeto que visa a redução do analfabetismo nos canteiros de obra, desenvolvido pelo grupo MRV&CO em parceria com o Instituto MRV&CO há 3 anos em Salvador, para garantir o sucesso dessas turmas, que já formaram mais de 133 profissionais da construção civil na cidade, é preciso, antes de tudo, identificar com precisão o nível real de desenvolvimento de cada estudante - e não apenas o último ano escolar frequentado. "Muitos alunos chegam dizendo que concluíram o ensino médio, mas a gente percebe, com as atividades e avaliações, que cognitivamente estão em outro estágio. Meu trabalho começa identificando esse nível real, para então montar um percurso de aprendizagem individualizado. É assim que conseguimos avançar, mesmo numa sala com níveis tão diversos”, explica.


Ele ressalta também a preparação necessária para atuar nesse contexto. “Participamos de uma formação intensiva, na qual nossas habilidades e competências foram trabalhadas. Fomos capacitados em uma metodologia pensada especialmente para o público adulto e voltada para a diferenciação da instrução”, aponta o professor do projeto Escola Nota 10. Além disso, o pedagogo destaca que o maior benefício das turmas multisseriadas é o aprendizado coletivo. “Por um lado, o professor compartilha conhecimentos pedagógicos e acadêmicos; por outro, aprende diariamente com a bagagem de vida, os saberes práticos e as histórias dos alunos. Essa troca cria um ambiente de aprendizado mútuo e de grande significado, tanto para os estudantes quanto para o professor”, conclui.


Aos 46 anos, Roberto Santos encontrou, em meio ao concreto e aos tijolos do canteiro de obra, a chance de mudar sua história por meio da educação. Com as aulas dentro do próprio local de trabalho, em uma sala multisseriada, o auxiliar de obra teve um sonho antigo reacendido: crescer profissionalmente e concluir os estudos. “Quero me capacitar, fazer outros cursos e melhorar de vida”, reforça. Ele é estudante do projeto Escola Nota 10, que acontece em uma sala de aula dentro da obra do Cidade Sete Sóis Paralela, da MRV, e aluno do Prof. Luan Ribas. Ele sabe que a sua história é a de muitos brasileiros que, por diferentes motivos, tiveram que abandonar a escola cedo e que agora enxergam na educação uma forma real de transformação. “Na vida, a gente já tem muitos ‘nãos’. Para conquistar o ‘sim’, temos que lutar, persistir, perseverar, confiar e ter determinação. Se tudo fosse fácil, não teria graça. É na dificuldade que mostramos nossa garra e perseverança para alcançar o que queremos”, incentiva.

 
 
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